Noite bárbara
Tinha um colega de trabalho
quando trabalhei num banco
no Rio de Janeiro, de fato,
e, por isso, por um breve período
me tornei um bancário,
gostava muito do título
mas, francamente detestava
o irrisório salário,
razão que retornei aos Estados Unidos,
porque como ajudante em enfermagem
ganhava mais de quatro vezes mais, de fato.
E, como tínhamos nos tornado
realmente grandes amigos, é claro,
residia no bairro da Penha
e, por isso sempre costumava
pegar naquela época o ônibus 350,
tanto para ir como vir do trabalho
que, por trabalhar na matriz do banco
descia sempre na Avenida Brasil,
antes do edifício vulgarmente chamado "cai-cai", de fato.
E, na minha última semana de trabalho,
na quinta ele me convidou para dormir
na favela onde vivia na Ilha do Governador
e, porque estava realmente super interessado
em pessoalmente experimentar
uma noite naquela aparente calma favela
então, naturalmente combinamos
jantarmos num restaurante que conhecia
antes de lá chegarmos,
pois não queria incomodar a família
que, francamente nem me conhecia, de fato.
E, para aqui não me estender,
para ser franco tenho de dizer,
foi uma noite infernal,
portanto verdadeiramente de terror,
pois fui bruscamente despertado
com gritos, granadas e tiros
vindos literalmente de vários lados
e, quando a nova manhã finalmente chegou
saímos assustados para ver
as marcas das balas perdidas nos myeos
e, à distância vimos diversos corpos
nos bonitos paralelepípedos espalhados
e, foi exatamente ali que entendi
a terrível situação de muitas famílias
honestas e que arduamente trabalhavam
mas, que infelizmente
devido o racismo e as discriminações
por morarem em favelas
eram logo considerados traficantes
e, por essa razão muitos morriam
por serem pela polícia assim tratados.
Foi nessa ceda manhã que ele
chorando me confessou
que tinha nascido e sempre vivido ali
mas, que ele mesmo também pretendia sair
e, que discretamente tinha estudado francês
e, que iria colocar agora o seu nome
tanto no consulado da França como da Suíça,
pois tinha naquela noite decidido
deixar o Brasil, de fato,
porque não pretendia morrer
nas mãos de bárbaros,
exatamente como foi essa passada noite, de fato.
Perdemos contato e não sei se ele conseguiu
deixar aquele inferno em que vivia
sem ter nenhuma culpa em relação
aquela realmente dramática situação
qual, evidentemente nunca esqueci, é claro,
por claramente me parecer
não ter solução, de fato.
Silvio Parise
Enviado por Silvio Parise em 02/12/2023