Textos
Memórias do pensionato
Vivi por algum tempo num pequeno quarto de penão apesar dessa realmente velha mansão ser grande e ter uma gigante propriedade, quintal que toda a belíssima flora foi derrubada e no vasto espaço construído pegado ao muro diversos quartos que hospedavam na sua maioria estudantes universitários que nas duas universidades naquela época em Recife nos anos sessenta estudavam na maioria dos casos direito ou engenharia, de fato. No final desse imenso quintal foi elaborado um pequeno apartamento com banheiro próprio qual durante o tempo que ainda criança vivi ali era alugado para uma família contida por uma avó, uma mãe solteira e seus dois filhos cujo mais velho por ser aproximadamente da minha idade se tornou o meu colega e sempre costumávamos tanto conversar como também brincar e as vezes saíamos para aquele bairro devido a nossa curiosidade de criança naturalmente tentar saciar. Foi nesse antigo pensionato que fiquei primeiramente sabendo que os seus donos eram um casal de portugueses que graças a uma padaria que tínham e um pequeno mercadinho que vendia queijos portugueses, manteiga e outros diversos produtos incluindo bebidas ficaram ricos mas devido um ataque cardíaco fulminante a sua viúva sem filhos rapidamente tudo vendeu e retornou a Portugal, mas ninguém sabia qual cidade. Foi nessa grande pensão que, apesar de ainda ser uma criança senti tanto na minha própria pele a dureza da vida como também vi a crueldade que os militares fizeram com tantos estudantes que não eram na realidade subversistas como comumente eram presos e acusados mas sim pessoas democratas que simplesmente queriam o retorno da democracia perdida com o golpe de 1964 organizado pela CIA, de fato. Esses dramas me fizeram ver como é realmente ruin se viver num regime de ditadura onde os direitos não existem apenas as barbaridades realizadas por um sistema literalmente organizado e ditado por forças estrangeiras que nos roubam tanto a democracia como também a soberania e, quantos aos seus filhos até hoje se encontram desaparecidos porque naturalmente vos mataram, daí ter me tornado um socialista democrata por ver tantas injustiças, de fato.
Silvio Parise
Enviado por Silvio Parise em 20/10/2023